sexta-feira, 30 de abril de 2010

Vamos falar de Ex?

Não sei como tem gente que tem raiva de ex-amor ( ex-paquera, ex-namorado, ex-noivo, ex-marido ). Amores que acabam fazem parte da história de uma pessoa, tantos como os amores do momento, assim como os amores que virão. Se um dia amei, é porque vi naquela pessoa coisas que me encantaram, me arrebataram, se encaixaram comigo e me ajudaram a ser quem sou hoje. Negar o valor de um ex-amor é negar uma parte de si mesma. Até os que foram um tremendo erro, até os que me abandonaram, até mesmo os que me fizeram sofrer horrores, gosto ainda deles, e os respeito como amores que foram. Não desejo o mal, não os esqueço, não os diminuo, nem os apago. Os ex- me ensinam que é uma delícia olhar pra trás e ver que, dores à parte, somos capazes de superar um amor perdido e continuar com as boas lembranças, prontas para cometer novos e deliciosos erros. O movimento da vida é bom, inclusive no amor.

Não tenho raiva de nenhum deles, os meus ex-. Nem do que traiu, me beijava tão bem. Nem do que me deixou, mas me fazia sentir tão amada. Nem do que me cansou, mas me ensinou tantas coisas. Nem do que me enganou, mas fazia meu coração disparar ao menor sinal da sua presença. Alguns eu tenho muita pena de ter perdido. Outros eu tenho muito arrependimento de ter deixado. Outros eu tenho alívio por terem sumido. E outros eu fico me perguntando o que foi mesmo que eu enxerguei pra um dia estar apaixonada. Mas nenhuma das minhas paixões, nenhum deles eu riscaria do meu caderninho de recordações. Prefiro lembrar, sempre. Lembrar de tudo, o máximo que conseguir, pra não me deixar esquecida de mim mesma.

O prefixo ex-, que vem da preposição latina exe, indica que houve um “movimento para fora”; algo saiu de onde antes estava tão bem ajeitado. Algo era, mas deixou de ser. E por isso, usado sempre com hífen ( pra que as coisas fiquem BEM separadas ), o ex- vem indicar que coisas mudaram, mas ainda há uma palavrinha inteira lá, depois, pra mostrar o tamanho da importância que a pessoa teve.

Por outro lado, também não entendo como tem gente que vira melhor amiga de ex-amor. Não entendo como pode ser servida a água limpa e purificada da amizade no mesmo copo onde antes estava o embriagante e marcante vinho do amor. Sempre vai ficar um gosto forte no fundo, lembrando ao paladar que aquela água não é como as outras. E quanto mais vinho ficou no copo, pior a situação. Algumas vezes o copo é quebrado em mil caquinhos, e não dá pra recuperar mais nada. Outras raras vezes o copo é tão bem limpo que fica quase imperceptível, e aí dá até pra tentar uma amizade. Mas pra mim isso nunca deu certo. Ex-amor tem que ficar lá, no passado, guardado com o carinho que merece, mas sem ficar à mostra pra lembrar o meu fracasso, a minha perda, a minha incompetência no amor. Gosto dos meus ex-amores, mas os quero longe de mim. Não gosto de cicatrizes que ainda dóem.

E também não entendo como tem gente que fica em eternos vai e volta com ex-amores. Conheço moça que teve três homens na vida, mas com eles somou mais de doze relacionamentos. Num eterno amar e desamar, quem volta com ex- acaba perdendo a chance de reconstruir uma nova história, com aquele aroma da novidade. Por preguiça, por medo ou por falta de opção, não se deve voltar com ex-amor. A não ser que ele ainda seja amor… Sem prefixo nenhum. AMOR total.

O tempo, implacável tempo, passa tão rápido e acaba fazendo a gente se esquecer de alguns ex-amores quase que completamente. Dia desses estava na Livraria Saraiva, entretida e encantada com as novidades do mercado literário, vampiros e mais vampiros... só e tranquila, quando ele veio e tocou meu ombro. Meu primeiro namorado e homem da minha vida, Léo. Até que ele sorriu, e o sorriso me reencantou. Lembrei que ele ria gostoso, como menino, que o sorriso dele me iluminava e os olhos dele eram de um verde tão lindo que me fazia lembrar o mar mais bonito que eu já tinha visto na vida. Anos sem saber um do outro. Quanta notícia! No sofá da livraria, nos atualizamos um do outro: o que estudamos, no que trabalhamos, ele com namoros fracassados, eu com sonhos irrealizados, você era tão diferente das outras, você era tão esperto e esforçado, nunca esqueci você, de vez em quando me lembro, você tá tão bonita , você parece tão mais seguro, lembra aquele dia, lembra aquela noite, eu fazia tudo pra você, eu adorava o seu jeito de andar. E por que foi mesmo que a gente se separou? Eu era tão medrosa, eu era tão bobo. Mas agora não somos mais. Me dá seu telefone… Ligo e… Quem sabe? A vida dá tantas voltas…

E foi então que no fundo dos olhos dele eu vi uma sombra muito grande que eu não queria que voltasse a me envolver, nunca mais. E deixei ele ir com o meu número de telefone… Errado. Porque a vida com um ex-amor, a gente já conhece mais ou menos como é. As pessoas não mudam tanto assim. Mas a vida com um novo amor… É um leque de possibilidades. Tudo pode acontecer.

Pelo menos até ele virar ex-.

Texto por: Vivi Bazilio

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